sábado, 14 de agosto de 2010

Vaca de nariz sutil

Hoje é um sábado muito frio, desses que não dá vontade de por o pé pra fora de casa, mesmo que pra atender aquela visita que chegou de surpresa.

Estava, desde ontem, marcado que iríamos todos na Acherupita, festa italiana que acontece no bairro da Bela Vista, e por nós entenda-se toda a família: porque de italiano não temos nada, mas falamos alto e comemos massa como tal.

Hoje eu queria mesmo ir ao teatro.

Os parlapatões estão realizando a mostra de repertório Sortidos e Variados, e hoje a peça da vez é Vaca de Nariz Sutil.

Na época que ficou em cartaz, 2008, eu estava vivendo o ano mais louco e estressante de que posso me lembrar: foi quando eu quase matei alguém só pra aliviar a tensão, engordei 5kg, e passei madrugadas tomando sorvete enquanto digitava por toda a madrugada para tentar terminar minha monografia dentro do prazo.

Enfim, li críticas e ouvi comentários a respeito dessa peça, e agora, dois anos depois, eu teria a oportunidade de finalmente assisti-la.

Ontem a Bella (minha cachorra) ficou internada, não sai.

Hoje, Acherupita, e amanhã a peça vai sair de cartaz, e eu não poderia ver.

Triste, mas conformada eis que uma sucessão de eventos (tio doente, pai apanhando do computador, primo desistindo do passeio) me deu hoje a chande de ir ao teatro e finalmente conferir o que era a Vaca de nariz sutil.

O que é?

Não sei. Talvez a constatação que em meio a tantas pessoas "normais" é o esquizofrênico que aponta e ri na cara da sociedade, que mostra o lado feio que todos nós escondemos, e principalmente, nos faz perceber o quão esquizofrênicos somos.

Texto memorável, arte-tecnologia a cada cena, um riso meio de humor meio de nervoso a cada blackout.

Nunca consigo sintetizar num texto coerente e satisfatório o que eu sinto após ver uma boa peça, parece que nunca é bom o bastante, que nunca faço justiça. Como a peça sai de cartaz amanhã recomendá-la aqui vai ficar meio perdido.

Então para terminar, uma citação que eu gostei muito. Óbvio que nem todas as palavras estão exatas, porque mesmo diferente do personagem central que é esquizofrênico (ou tem amnésia?), eu não tenho memória fotográfica haha (mas vou fazer o melhor pra transcrever certinho).

"Incesto? Não, não penso. Mas já pratiquei. Uma vez, com a minha própria mão, usando dois dedos eu cavei um buraco na terra e fodi a tão chamada Mãe Pátria."

"Às vezes penso que Aristides nem é mudo nada, e apenas leva o seu ceticismo até as últimas conseqüências, sabendo como eu sei que nenhum dos dois sabe coisa alguma. Um mudo não assobia, muito menos um surdo, e o seu assobio tem isso de estranho que é sempre a mesma música."

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